domingo, agosto 30, 2009

Segredo

Sabes amor que eu te escondo uma verdade?
Sabes porque a tenho escondida?

Dizer-te que sou mar não é novidade,
mas quero ser barco numa corrida,
quero ser sereia sem idade,
quero tocar, curar esta ferida.

Sabes amor que eu te escondo uma verdade?
E olha que a tenho bem escondida...
mas leva a ternura, a sinceridade,
compra-lhes um bilhete de ida,
e quanto à minha fatal verdade,
desculpa, mas não pode ser repartida!

domingo, agosto 16, 2009

A espantosa realidade das cousas (Alberto Caeiro)

É a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

Alberto Caeiro

domingo, agosto 09, 2009

Façam o favor de ser felizes

"Quando me perguntam como crio o riso, digo: não sei. E não sei mesmo, não faço a menor ideia, nem isso me preocupa, porque no dia em que mexer nesse mecanismo, tenho medo de o perturbar. Deixem-me estar nesta doce inconsciência e ignorância em relação a esse assunto."

Raul Solnado